terça-feira, 10 de maio de 2011

Na Letra do Erre

  

     Renato é uma raposa que entende realmente muito de futebol. Reconheceu antes de nós, relos mortais, que diante da ruindade do Grêmio não teria razões para acreditar na reconquista da tão requisitada Libertadores. Resolveu então, com reciprocidade do seu rebanho, arrematar com rigor o regional. Foi aonde o clube ralou com raiva e raça. Reitero, respiramos apenas o ruralito. O Grêmio ressentiu-se menos do revés da quarta. O Remendão parecia nossa residência.
     Os reservas do Renato arrasaram no clássico. Mário Fernandes resgatou resbonsabilidade à lateral. Fernando jogou recuado, com raciocínio, restringiu-se ao desarme. Viçosa no início, deixou seu reitor quase rouco e ressabiado, porém deu seu recado, redimiu-se. Duas raquetadas para a redenção. Coube à Renan a reverência. Escudero está reintegrado. Quando recrutado para atuar no seu rincão, mostrou recurso, que é do ramo. Sua expulsão foi o único erro de Jean Pierre, erros reicidentes aliás. A revelação Leandro é raridade. Passou repetidas vezes de rasante pelo ridículo Nei. Fez gol de Romário. De nada resolveram as relinchadas e rasteiras de Bolatti e Bolívar, relíquia. Entretando, foi o titularíssimo, o robusto, a rocha Rochemback, que como uma ave de rapina no céu reluzente rasgou a resistência rival. Que roteiro, vitória ratificante. Desta vez sem reclamações, sem remórcio, sem o ranço do rude e rabugento Roberto Siegmann. O rugido não reapareçeu.
     Decisões sempre nos deixam receosos e reticentes. Mas foi sim uma redenção entre time e torcida. No momento, o Grêmio apenas romanceia a taça. A revanche será no próximo domingo. Muitas discussões até o derradeiro confronto. Agora, para terminar essa resenha, quero redigir uma rima para registrar uma raridade que rondou as redes sociais, razão única para eu ter enrolado com tanta palavra com a letra "erre" até aqui:
" Meu ídolo causa reboliço aonde chega, o teu rebola e rodopia querendo se mostrar.
Meu ídolo arremata loira, morena e negra, o teu repudia tudo isso, sempre querendo revezar.
Então gremista, se algum dia um colorado retardado, vier com essa rixa de querer-lhes comparar, diga rapaz não te emociona, que o Renato roeu a roupa do Rei de Roma, mas recrutou um tenista para o serviço terminar."

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Meu Fiel Amigo, o Imponderável!

     
      Poucas vezes presenciei o Grêmio ir tão fragilizado para uma decisão como esta noite contra a Universidad Católica no Chile. Sucessivos fracassos, falta de reposição qualificada, más atuações principalmente fora do Olímpico, e agora esse tsunami de lesões assolam o clube nesta temporada. Beira o inacreditável constatar que não teremos jogadores para completar um banco de reservas. Para piorar o quadro, enfrentaremos novamente uma equipe qualificada, de categoria, cujo técnico Juan Antonio Pizzi, um argentino, encorporou ao time o estilo cadenciado de toque de bola dos hermanos. Enfim, prognóstico muito reservado. Pois teimo em não deixar de acreditar por algumas razões, a primeira delas, de minha preferência, mais racional.
     Se o chamado time titular começava a dar sinais de que não apresentaria maior evolução, a troca de jogadores com resposta insatisfatória (Borges, Gabriel e Willian Magrão) pode fazer surgir atletas com melhor desempenho. Oxigenar a escalação. Todavia nem é tão nos nomes que aguardo tal transformação, espero que os desfalques sirvam para Renato encontrar uma idéia melhor de time, com formatação mais equilibrada. Está claro que uma das falhas da mecânica de jogo é a recomposição do sistema defensivo quando se perde a bola no campo de ataque. Com a entrada de Vilson teremos um jogador mais plantado em frente a área, facilitando o trabalho dos zagueiros. Aliás, não entendo porque o Renato ainda não trocou Rockembach de posição com o Adilson, assunto esse pra outra hora. Hoje, teremos novamente a proteção tão suplicada de um cão de guarda na nossa área, e por aí o Grêmio pode construir a vitória.
     Uma das lições deixada pelo Grenal foi que zagueiros e laterais ficaram mais seguros com a entrada de um terceiro defensor. Rafael Marques e Rodolfo tiveram poucas falhas, Gílson foi até razoável sem tanta responsabilidade de marcar e Gabriel fazia ótima partida até a lesão. O erro foi ter deixado o garoto Leandro no banco. Para a batalha de logo mais, é este o time especulado e ainda não confirmado pelo treinador: Marcelo Grohe, Mário Fernandes, Rafa Marques, Rodolfo e Gílson, Vílson, Adílson, Fernando e Douglas, Leandro e Viçosa. Melhor ainda se Mário fosse escalado como zagueiro pela direita. Se não é zagueiro e nem lateral, pois que jogue de zagueiro-lateral, qualidade pra ser titular ele tem. Anseio que a presença dos dois jogadores que explanei um pouco mais faça com que o gol fique longe de ser uma possibilidade constante pro adversário. E então que se faça o que sabemos fazer melhor, atacar, bola parada. Aproveitar o número maior de jogadores altos para surpreender os nanicos chilenos. Jogando quase nada, muitas vezes esse ano vi esse time fazer dois ou mais gols longe de Porto Alegre.
     Compartilho com as críticas de que não adianta ficar evocando a Imortalidade, que para ganhar há de se formar um bom grupo. Porém seria injusto não dizer que ela está sim presente na vida desse clube. Foram estes momentos que me tornaram hoje tão fanático assim. E é essa a outra razão que me faz tanto acreditar na classificação. Estamos falando de Grêmio. Instituição aonde as jornadas épicas são rotina e o imponderável é amigo fiel.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Da Limonada ao Limão, Felipão é Campeão!


     É o Palmeiras que dita o ritmo do Campeonato Paulista. Seguido de perto por seus rivais, o alvi-verde contraria as previsões e há algumas rodadas mantém-se na dianteira do certame. Mesmo com um grupo reconhecidamente de qualidade inferior, consegue os resultados que lhe convém de forma segura. Luiz Felipe Scolari , semelhante aos jogadores quando repatriados, demorou um ano para readaptar-se ao futebol nacional. Uma temporada para esquecer os elencos qualificados, o futebol bem jogado, a fria e pacata tranquilidade encontrada em solo europeu. Melhor, parece ter finalmente encontrado o bom e velho estilo Felipão. Como ninguém, segue a risca o ditado "fazer de um limão uma limonada". Engraçado que o limão é ele mesmo quem colhe.
   Os méritos do treinador são antigos e conhecidos. Grande capacidade para armar equipes competitivas, defesas sólidas, explorar os pontos fortes do seu time, encontrar atletas úteis e com características bem definidas. Porém é no dia-a-dia, criando e contornando polêmicas, que ele consegue fazer a diferença. As críticas à qualidade do plantel quase sempre partem do treinador. Peita de frente com seu torcedor, reclama abertamente dos dirigentes. Na verdade o que faz é centralizar e ao mesmo tempo desviar críticas e responsabilidades. Sabe que até um jogador mediano pode render bem quando ausente de pressão. Ele precisa de inimigos para fechar o grupo em torno dos seus objetivos. A imprensa aliás é seu alvo predileto. Avista ofensividade em qualquer pergunta, colocação, até em um simples convite para tomar café. Essa é uma história interessante.
     Uma vez fui a um hotel em Criciúma aonde o Grêmio estava hospedado para jogar uma partida da Copa do Brasil de 1996 contra o Tigre. Aos 13 anos tive a alegria de almoçar na companhia de grandes ídolos como Danrlei, Jardel, Roger e Paulo Nunes. Em meio a tanta euforia, flagrei duas cenas curiosas, que nunca sairão da minha memória. Primeiro, um morador local se aproxima de Scolari e o convida para degustar um capuccino em uma cafeteria tradicional da cidade, a resposta? Bem assim, na segunda pessoa e com sotaque do Lima Duarte na novela das seis.
-Rapaz, pensas que eu não sei que tu só queres que eu vá contigo pra dizer que és amigo do Felipão?
Logo em seguida Paulo Nunes adentra o ambiente com uma cara de sono descomunal e a camiseta vestida do lado contrário. Muito atento, o treinador não deixou passar barato. Vai pensando no Lima Duarte.
- Mas tchê Paulo, tu estais lançando moda agora? Fartos sorrisos entre os presentes.
     Acho que estas passagens resumem bem a personalidade de Luiz Felipe. Azedo como um limão para quem lhe é estranho e doce e agradável para seus comandados, como uma boa limonada.